O réu Jair Bolsonaro em depoimento no STF. Foto: Fellipe Sampaio/STF
Por Juliana Dal Piva, Igor Mello e Gabriel Gomes – ICL Notícias
O Supremo Tribunal Federal (STF) interrogou, nesta terça-feira (10), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), na ação que apura a tentativa de golpe de Estado em 2022. Bolsonaro é um dos oito réus do chamado ‘núcleo crucial’ do golpe.
Antes da sessão, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, negou pedido da defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro para exibir vídeos durante o seu interrogatório sobre a trama golpista. Ao ser questionado por Moraes sobre denúncia feita por ele de que os ministros estariam levando dinheiro nas eleições, Bolsonaro pediu e afirmou não ter indícios.
“Quais eram os indícios que o senhor tinha que nós estaríamos levando U$S 50 milhões, U$S 30 milhões?”, perguntou Moraes.
“Não tem indícios nenhum, senhor ministro. Tanto é que era uma reunião para não ser gravada. Um desabafo, uma retórica que eu usei. Se fosse outros três ocupando teria falado a mesma coisa. Então, me desculpe, não tinha qualquer intenção de acusar de qualquer desvio de conduta os senhores três”, respondeu Bolsonaro.
Depois de Bolsonaro, serão interrogados o ex-ministro da Defesa Paulo Nogueira e o ex-ministro da Casa Civil Walter Braga Netto. Já prestaram depoimentos o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional Augusto Heleno, o ex-ministro da Defesa Paulo Nogueira, o ex-ministro da Casa Civil Walter Braga Netto, e o almirante Almir Garnier, comandante da Marinha no governo de Jair Bolsonaro.
Também foram incluídos no “Núcleo 1” o deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem e o tenente-coronel e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid, interrogados nesta segunda-feira (9).

Veja os principais momentos do interrogatório no STF
Fim
Às 16h42, foi encerrado o depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro. O ministro Alexandre de Moraes decretou um intervalo de 15 minutos nos interrogatórios.
Documentos golpistas
Bolsonaro insiste que recebeu os documentos golpistas, descobertos durante as investigações, de seus advogados que tinham apenas feito a impressão dos autos do processo para ele analisar.
‘Tem algo pessoal entre nós’, diz Bolsonaro sobre Barroso
“Tem algo pessoal entre nós dois. Eu relevo muita coisa, mas ele parece que não superou isso daí”, diz Bolsonaro sobre o ministro Luis Roberto Barroso.
Votos
“Peço a Deus que ilumine todos os senhores”, diz Bolsonaro sobre votos dos ministros do STF nas acusações contra ele.
Baptista Junior
“Houve um exagero por parte do Brigadeiro que foi desmentido pelo general. Entendi que ele tava comigo enquanto eu era presidente e quando não era mais ele tava procurando um novo lugar”, diz Bolsonaro ao atacar o brigadeiro Baptista Junior.
Fux
“Teve uma reunião que o senhor escorregou no vocabulário e ofendeu autoridades. Ela foi gravada ou grampeada?”, questiona o ministro Fux.
Reunião com hacker e Zambelli
O ex-presidente confirmou que se reuniu com a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e o hacker Walter Delgatti Neto, condenados por invasão ao sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
“Carla Zambelli levou o hacker, e eu o recebi. Não entendo nada de informática. Não senti confiança nele, como de praxe. Encaminhei o hacker a ir para a Comissão de Transparência Eleitoral e nunca mais tive contato com ele. Não tive retorno [do então ministro da Defesa Paulo Sérgio]. Nem sei se foi recebido”, disse.
‘Pobres coitados’
Bolsonaro chama os golpistas de 8 de janeiro de “pobres coitados”. Nega que tenha tentado um golpe e defende a ditadura. “Tem gente que chama Temer de golpista até hoje por causa do impeachment. A esquerda acha que 64 é um golpe”, diz Bolsonaro.
Prisão de autoridades
Moraes questiona se o documento previa prisão de autoridades. Cid e o comandante da Aeronáutica contaram sobre a previsão de prisão do ministro Alexandre de Moraes. Bolsonaro primeiro diz: “Só tinha considerandos”. Depois é questionado novamente e nega.
Minuta golpista
“Eu queria ter o a essa minuta”, diz Bolsonaro. Ele tenta desfazer a ideia de que o documento era uma minuta. “Não procede o enxugamento”, diz. “Não tinha cabeçalho”. Bolsonaro tenta dizer que eram apenas “considerandos”. Ao final, ite que mostrou um documento na tela para o comandante Freire Gomes.
Bolsonaro ite que trecho de minuta foi exibido a comandantes militares durante reunião, mas alega que discussão “não foi à frente”.
Reuniões
Reuniões com chefes das Forças Armadas foram “em grande parte” motivadas por decisão do TSE que multou o PL em quase R$ 23 milhões, itiu Bolsonaro.
Pressão em ministros
“Jamais pressionei o ministro que for”, diz Bolsonaro. Contudo, é de conhecimento público o vídeo de reunião ministerial em 2020 no qual Bolsonaro ameaçou o então ministro da Justiça, Sérgio Moro, de demissão se não pudesse interferir na PF para proteger seus filhos.
Documento sem relação com o caso
“Todo sistema eletrônico pode ter vulnerabilidades”, diz Jair Bolsonaro. O ex-presidente repete à exaustão um trecho de um documento da associação de peritos da PF sem nenhuma relação concreta com o caso.
Contradição
Bolsonaro diz que a relação dele com os ministros não era autoritária. Ele só não lembrou que toda a cúpula dos comandantes militares foi substituída em março de 2021 após uma crise durante a pandemia.
‘Desagradável’
Bolsonaro define momento do depoimento como “bastante desagradável”.
Recuou
“Eu posso ter exagerado na crítica”, diz Jair Bolsonaro sobre as falsas informações em relação ao sistema das urnas. Disse que foi “um vício” que trouxe do parlamento para o executivo porque acredita na imunidade parlamentar.
Live
Bolsonaro muda versão sobre inquérito vazado por ele em live durante a campanha. Agora o ex-presidente ite que se tratava de uma invasão ao sistema interno do TSE, e não as urnas. Bolsonaro ainda afirmou que não entende “quase nada” de informática.
‘Não tenho indícios’
“Não tenho indícios, sr. ministro. Me desculpe”, diz Bolsonaro para Alexandre de Moraes sobre acusações a ministros do STF. Veja o vídeo: