Foto: Daniel Kantek / ICMBIO
O avanço do agronegócio, especialmente a pecuária, está destruindo o habitat da onça-pintada no Brasil, acelerando a perda de biodiversidade e prejudicando as metas climáticas. O diagnóstico faz parte de um estudo inédito produzido pela ONG Global Witness mostrando que em 2022 e 2023, as onças pintadas já perderam 27 milhões de hectares de vegetação nativa nos estados do Pará e do Mato Grosso, uma área que é maior do que a soma dos territórios da Inglaterra, da Escócia e do País de Gales.
Esse é o total de áreas de pasto e agricultura que havia nesses dois estados em 2023 e que estão sobrepostas ao mapa de habitat da espécie. Na prática, isto significa que esses animais podem ter sido deslocados ou mortos.
A investigação revela que a JBS, maior processadora de carnes do mundo , é uma das responsáveis por esta crise. De 2013 a 2023, um único fornecedor da JBS derrubou mais de 1.200 hectares de floresta no habitat da onça-pintada em uma área protegida do Brasil. No Pará e Mato Grosso, 75% das fazendas da cadeia da JBS violaram leis ambientais nos últimos cinco anos.
Impacto ambiental
As populações de onças-pintadas estão em declínio, com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) classificando o grande felino como “quase ameaçado”. Estima-se que 1.422 onças foram mortas ou deslocadas na Amazônia entre 2016 e 2019, de acordo com um estudo de 2021 da revista Conservation and Science Practice.
Como principais predadores, as onças desempenham um papel crucial na manutenção de ecossistemas saudáveis, controlando doenças e garantindo que certas populações de espécies não cresçam muito e interrompam a cadeia alimentar.
COP30 e necessidade de ação global
O Brasil sediará a COP30, a cúpula climática da ONU, no Pará, em novembro deste ano. Lá, os líderes serão cobrados por mostrar como implementarão a Declaração de Líderes de Glasgow sobre Florestas e Uso da Terra para deter e reverter a perda de florestas até 2030.
Grupos ambientalistas, incluindo a Global Witness, disseram que os líderes precisam chegar à COP30 com planos claros para cumprir suas metas de desmatamento, garantir que os defensores das florestas sejam incluídos nas negociações climáticas e garantir que as ações em prol da biodiversidade sejam contempladas.
Sem regras mais fortes para a cadeia de suprimentos e finanças, apoiadas por penalidades severas, as empresas que praticam o desmatamento podem levar espécies icônicas como a onça-pintada à extinção.
Faça o do estudo completo da Global Witness (em inglês)